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Vigésima primeira noite

Written by: Hans Christian Andersen

Há catorze dias a lua não aparecia. Veja! Hoje ela voltou a brilhar por entre as nuvens, redonda, majestosa. Movia-se vagarosamente, como sempre. Escutem só o que ela me disse: “Da cidade de Fezzan, eu decidi acompanhar uma caravana que estava saindo da cidade. A caravana seguia lentamente até que parou nos limites de um deserto arenoso, com uma planície coberta de sal brilhando como um lago congelado. Alguns pontos eram cobertos por uma camada muito fina de areia. O líder da turma tinha pendurado em seu cinto um cantil. Sobre sua cabeça, uma espécie de turbante, guardava pães ázimos. Tomou de seu cajado, fez um quadro na areia, escreveu dentro dele algumas palavras retiradas do Corão, dedicando aquele lugar a Alá. Terminada a cerimônia, a caravana voltou a sua marcha.
À frente da caravana seguia um belo jovem mercador. Ia pensativo. Percebi facilmente, pelos seus olhos, que era filho do Oriente. Seu cavalo imponente, trotava e resfolegava. Onde estariam seus pensamentos? Já estava com saudade de sua bela e jovem esposa? Há dois dias uma bela festa o transformado em um noivo feliz. Tambores e címbalos soavam, mulheres cantavam, tudo era alegria e agora ali estava ele atravessando o deserto em uma caravana.
Foram muitas noites seguindo aquele grupo. Estive com eles quando descansavam nos oásis à sombra de tímidas palmeiras. A exaustão de um camelo era motivo de celebração pois eles o matavam e comiam sua carne. Meus raios claros e brilhantes eram um alento. Eles refrescavam as areias, iluminavam os montes . A natureza parecia uma ilha deserta naquele oceano de areia. Nada perturbou aquela caravana. Nenhuma tribo hostil surgiu em seu caminho, nenhuma tempestade de areia, não houve colunas de redemoinhos de areia. Não houve mortes, não houve perdas, não houve destruição. O belo jovem tinha um anjo que rezava por ele; sua esposa, ela também rezava por seu pai.
Estariam mortos? Perguntou-me quando viu apenas uma metade de mim aparecendo no céu.
Nesse momento haviam deixado o deserto para trás. Em uma das muitas paradas, sentaram-se sob as palmeiras e distraíram-se olhando o grou voando ao redor deles com suas asas compridas, enquanto o pelicano os vigiava pousado nos galhos de uma mimosa. Em muitos pontos a pastagem havia sido destruída pelas pesadas patas dos elefantes que por ali passavam. Avistaram um grupo de negros que estavam voltando de um mercado. As mulheres enfeitavam seus cabelo com botões de cobre. Vestiam-se com roupas de cores vivas , dirigiam pesados carros de bois e tinham seus filhos presos em suas costas. Eles estavam nus e dormiam. Um dos negros havia comprado um leão no mercado. O jovem mercador continuava pensativo e imóvel. Seus pensamentos voltavam-se para sua jovem e bela esposa. Ele sonhava, com a felicidade que o esperava lá longe, além do deserto. De repente ele ergueu a cabeça e... a primeira nuvem passou diante de mim e mais uma e ainda mais uma “ e eu, não pude ver mais nada sequer ouvir durante todo o resto daquela noite.

© Todos os direitos reservados a H.C Andersen Institutte ®

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