We use cookies to ensure that we give you the best experience on our website. If you continue to use this website, we will assume that you agree to the use of cookies.

Décima Noite

Written by: Hans Christian Andersen

"Eu conheci uma velha senhora", disse a lua, " durante o inverno, ela retirava de seu guarda-roupa, um quimono de cetim amarelo, muito bem cuidado e guardado e o usava todos os dias, sem nunca mudar o traje. Ao chegar o verão, um chapeuzinho de palha dava vida a seu traje, um vestido azul-acinzentado, sempre o mesmo, diariamente, isso era o que eu imaginava. Saia de casa somente para visitar uma velha amiga que morava do outro lado da rua, mas nos últimos anos ela não fez isso porque sua amiga havia morrido. A velha senhora, no verão, era vista sempre à janela cuidando das maravilhosas flores que enfeitavam o parapeito de sua janela e também das florzinha de agrião que ela cultivava sobre um pedaço de feltro umedecido durante o inverno. No último mês, ela não tem aparecido à janela, mas eu sabia que ela ainda estava viva, porque não a vira sair para fazer a grande jornada sobre a qual ela e sua amiga costumavam falar. "Sim", dizia ela, "quando eu morrer, viajarei muito mais do que em toda a minha vida; a dez quilômetros daqui fica a tumba de minha família. Gostaria de ficar com eles e descansar junto a meus pais e irmãos. "Certa noite, vi uma carruagem do lado de fora da casa, os homens que desceram dela carregavam um caixão, soube então, que a velha senhora havia morrido. Quando eles sairam da casa depositaram o caixão sobre a palha da carruagem e partiram rápidos deixando a cidade para trás. Pela velocidade que o cocheiro deixou a cidade poder-se-ia pensar que estava indo para um piquenique. No caixão dormia a velha e silenciosa senhora, que não saíra uma só vez de sua casa no ano anterior. Na estrada, a carruagem corria ainda mais. O homem não olhava para trás pois tinha receio de ver a velha senhora sentada no caixão, vestida com seu conhecido quimono amarelo. Com tanto medo estava que chicoteava os cavalos para irem mais rápido, mais rápido. Ele segurava as rédeas com força e as puxava de forma que os cavalos, embora jovens e saudáveis, chegavam a espumar. De repente, uma lebre atravessou a estrada assustando os cavalos fazendo-os galopar ainda mais rápido. A velha senhora, que nunca havia ido além do outro lado da rua, que havia tido uma vida até certo ponto monótona, estava agora aos saculejos por aquela estrada ruim e cheia de pedras. De repente, a um balanço mais forte, o caixão caiu da carruagem e alí ficou, enquanto cavalos, carruagens e cocheiro se afastavam loucamente. Ao amanhecer o dia um pássaro passou por alí cantando sua canção matinal sobre o caixão, sentou-se nele, fixou-o e com seu bico começou a tirar toda a palha que recobria o caixão, algum tempo depois continuou seu voo e seu canto e, finalmente, desapareceu. Eu também, rapidamente despareci atrás das nuvens vermelhas da manhã. "

© Todos os direitos reservados a H.C Andersen Institutte ®

© Todos os direitos reservados a H.C Andersen Institutte ®