Written by: Hans Christian Andersen
A Rainha da Neve 👑❄️ - 7° Parte
O que aconteceu no palácio da Rainha da Neve e o que sucedeu depois.
Finalmente Gerda chega ao palácio da Rainha. As paredes eram de feitas de neve. As portas e as janelas nĂŁo tinham uma forma e um lugar especĂficos, eram feitas pelo vento cortante que passava por entre as paredes. As grandes salas eram construĂdas na proporção em que a neve caia em flocos. Havia mesmo muitas salas. Podem acreditar. O tamanho eram os mais variados possĂveis havendo sal tĂŁo grandes, mas tĂŁo grandes que se estendiam por milhas. Era tudo muito gelado e com uma luz prĂłpria provocada pela alvura da neve. Ali, nĂŁo havia espaço para alegria nem mesmo quando os animais que habitavam aqueles lugares, os ursos polares, as raposas polares branca resolviam dançar ou conversar ao som do ritmo dos ventos e batidas sequenciais em suas pernas imitando tambores. Tudo era imensamente triste naqueles imensos salões desertos que, na verdade, formava o conjunto do palácio da Rainha que Ă s vezes eram iluminados pela luz da Aurora Boreal. No maior de todos os salões havia um lago. Ele tinha sido partido em milhares de pedaços todos simetricamente iguais. Pareciam um belo e Ăşnico mosaico. No centro a Rainha sentava-se e dizia que aquele era o espelho da inteligĂŞncia, a Ăşnica coisa importante e acima de qualquer outro dom humano. Ela gostava de ficar nesse lugar quando se encontrava no palácio, parecia que se alimentava dele.
Por onde andaria Kay? Em um canto qualquer, congelado, mas ele nĂŁo sentia frio porque a Rainha da Neve o beijava e impedia que ele se desse conta do frio que o fazia ate mudar de cor. Seu coração era tĂŁo duro como as pedras de gelo que construĂram o palácio da Rainha. Kay passava o dia brincando com figuras que ele tentava formar como os Jogos Chineses. Ele procurava dar forma aos pedaços de gelo que, segundo seus olhos disformes – recordam o estilhaço de espelho em seus olhos? – pareciam figuras que as crianças usam para brincar, para formar seus exĂ©rcitos etc. Ele tambĂ©m gostava de formar palavras, mas havia uma em especial que ele nĂŁo conseguia terminar: eternidade. Por mais que tentasse, nĂŁo conseguia. A Rainha da Neve lhe dizia: se vocĂŞ conseguir darei a vocĂŞ a liberdade, vocĂŞ será dono de si mesmo podendo ir para onde quiser e fazer o que quiser porque darei a vocĂŞ um par de patins novos, mas pobre Kay, ele nĂŁo conseguia.
– Estarei fora por uns dias. Vou até as terras quentes verificar como estão os grandes caldeirões pretos. Sabem o que eles são? Os vulcões Etna e Vesúvio. Preciso refrescar um pouco aquelas áreas porque o ar mais frio faz bem aos limoeiros e às videiras.
A Rainha da Neve voou para as regiões quentes e muito distantes. Enquanto isso o pequeno Kay ficava ali, parado, congelado, pensando, extremamente só. De tão quieto, de tão inerte parecia até morto.
Nesse mesmo instante por uma das muitas portas do palácio, Gerda entrava. Começou a rezar e nesse mesmo instante os ventos foram se acalmando parecendo que queriam dormir. Gerda entrou e passou pelas grandes salas desertas. Em uma delas, a um canto, viu Kay, como não poderia reconhecê-lo? Correu para ele e o envolveu em seus braços.
Gerda gritava feliz o nome de Kay, finalmente o havia encontrado.
Pobre Kay, continuava inerte, completamente congelado. Gerda começou a chorar de tristeza por ver seu amigo naquele estado. Suas lágrimas foram caindo no peito de Kay e penetraram em seu coração. Assim o pedacinho de gelo que estava lá dentro, derreteu. Kay olhou para Gerda e cantou o velho salmo:
As roseiras no vale a florescer veremos
E o Menino Jesus conosco teremos...
Kay começou a chorar e o fez copiosamente e com tanta força que o pedacinho de gelo que havia em seu olho também caiu.
– Gerda, minha pequena e doce Gerda! Por onde você andou? Por onde eu andei? Tudo aqui é tão gelado, sombrio e deserto!
Abraçou muito Gerda. Ela ria e chorava ao mesmo tempo de tanta felicidade. A felicidade era tanta que até o gelo à volta deles se agitava. Quando pararam de celebrar o reencontro deles. Formaram juntos a palavra que daria a Kay a liberdade.
Gerda beijou-o. Imediatamente suas faces readquiriram a cor que haviam perdido. Beijou também seus olhos que agora brilhavam tanto quanto os dela, beijou seus pés e suas mãos fazendo-o forte outra vez. Quando a Rainha da Neve voltasse veria que Kay estava livre pois formou a palavra que ela o havia imposto.
De mĂŁos dadas caminharam para deixar o palácio. Suas recordações do passado voltaram e conversavam sobre tudo que haviam vivido e, principalmente da velha avĂł. A medida que ambos caminhavam os ventos acalmavam e o sol voltava a brilhar. Ao chegarem ao arbusto com as frutas vermelhas, a rena os esperava. Junto estava sua companheira que tinha muito leite e o deu aos dois. A rena os beijava na boca. SaĂram a galope e a primeira parada foi na casa da mulher de Finmark que os aqueceu, depois na da mulher da LapĂ´nia que costurou roupas novas para eles, alĂ©m de consertar o trenĂł de Kay.
As renas foram com eles atĂ© as fronteiras do paĂs. A vegetação começava a brotar. Despediram-se das renas e da mulher.
– Adeus! Adeus!
Já se podia ouvir o canto dos pássaros e algumas flores já começavam a enfeitar a floresta. De repente do meio da floresta surge uma dama montada em um cavalo que Gerda conhecia muito bem. Lembram–se da carruagem que a princesa deu a Gerda? ... Era ela mesma a menina dos salteadores. Trazia à cabeça um gorro vermelho e algumas armas presas a seu cinturão. Ela estava iniciando sua longa viagem. Estava cansada de viver por aqueles lados e queria explorar o mundo. Ficaram muito alegres por se reencontrarem.
– Então você é Kay? Será que você merece que uma pessoa vá até o fim do mundo para resgatá-lo?
Gerda acarinhou a menina e foi logo perguntando por seus amigos. A princesa e o prĂncipe tinham siado para uma viagem ao redor do mundo.
– O Corvo?
– Pobre, morreu e a namorada mansa agora anda com uma linha preta amarrada em sua perna. Chora muito, coitada. Mas, como sempre digo, tudo nesse mundo é bobagem, mas agora quero ouvir tudo sobre vocês, Como conseguiram se livrar da Rainha da Neve?
Gerda e Kay contaram tudo.
Bem, vou indo. Tomando Gerda e Kay pelas mãos prometeu visitá-los caso algum dia passasse por sua cidade. Virou seu belo cavalo e saiu a galope para correr o mundo.
Gerda e Kay continuaram de mĂŁos dadas e seguiram seu caminho. A primavera chegava com as flores colorindo os caminhos, as ruas, as casas. A medida que continuavam seu caminho ouviam os sinos das Igrejas replicarem e começaram a reconhecer alguns sons, algumas paisagens bem prĂłximas da cidade onde moravam. Já na cidade foram para suas casas onde a avĂł morava. Tudo permanecia como no começo. O relĂłgio continuava trabalhando e nada havia saĂdo de seu lugar original. Quando atravessaram a porta perceberam que nĂŁo eram mais crianças, agora eram adultos. As mesmas roseiras que floriam na calha continuavam a florir e entravam pelas janelas abertas. As cadeirinhas usadas por eles quando eram crianças estavam no mesmo lugar, mas agora já nĂŁo cabiam mais nelas. Kay e Gerda deram-se as mĂŁos. Haviam esquecido completamente de tudo pelo qual passaram. NĂŁo havia o menor resquĂcio dos tempos gelados em suas mentes, assim como esquecemos os pesadelos, tambĂ©m eles esqueceram os deles. A avĂł sentada em sua cadeira de balanço, aquecia-se ao sol e lia a BĂblia em voz alta: “A nĂŁo ser que permaneçam como crianças, nĂŁo entraram no reino de Deus.”
Kay e Gerda fitaram-se e somente entĂŁo puderam entender a mensagem do salmo:
As roseiras no vale a florescer veremos
E o Menino Jesus conosco teremos...
Assim Gerda e Kay puderam viver a experiĂŞncia do amor puro. Eram agora adultos, mas ainda crianças em seus corações. Ă€ volta deles o verĂŁo começava a aquecer sua cidade e seu paĂs. Abençoado e quente verĂŁo.