Escrito por: Fatima Vieira
O mês é novembro, quando o outuno está presente com suas cores contrastantes entre o cinza do céu e o laranja-avermelhado das folhas que forram fartamente o chão.
Tudo virou um tapete de tons; do verde desbotado, com a ausência da clorofila, do amarelo maduro, passando pelo laranja e enfim, o vermelho, pintando o chão...e, sem deixar de contar evidentemente com o cinza que tudo vem emoldurar.
Olhando para cima vejo árvores desnudas de suas folhas e galhos enegrecidos, formando figuras diversas no meu sonhar...; por entre as fendas das figuras, está o cinza - marcante presença no contexto comprovador do inverno, que está para chegar.
O chão está sempre molhado, como se não parasse de chorar, e tudo se encolhe um pouco - para do frio escapar.
O verde lodoso permanece intacto no seu visco, pois o frio o veio alimentar... e, tomou também formas...para essa natureza encantar.
Estou dando voltas na cidade do grande escritor dinamarquês H.C.Andersen. Somente agora compreendo os desenhos dos seus livros infantis que eu paginava e voava dentro da sua imaginação - sem muito me encontrar.
Agora piso o mesmo chão que ele pisou - no momento, coberto de asfalto; as árvores são as mesmas - as seculares sobreviventes dos grandes invernos, com seus frondosos troncos e suas copas de formas diversas.
Certamente esse filho de Odense encontrou muitas das suas fantasias nesse nostálgico período de pensar.
Continuo andando pelas mesmas ruas que ele andou - com certeza pensando - como agora estou; respirando o ar gelado e inspirando histórias infinitas de luz e cor.
Vejo adiante a casa onde ele morou. A rua é estreita e meio torta, como a esquivar de algumas casinhas baixas - dando-lhes espaço; rua calçada ainda com as mesmas pedras angulares da época, as que me fazem por um segundo voltar no seu tempo...e ver a carruagem passar com seus cavalos a trotar, fazendo o ruído típico do contraste dos seus cascos com o solo; ver os passantes na mesma época, no começo do inverno, vestidos com as pesadas roupas de veludo; as mulheres, com seus longos vestidos a varrer o chão...e ele - o vejo com seu jaquetão preto, a maleta dos contos, contendo todos os papéis que carrega e na cabeça, o grande chapéu que ele sempre trazia, como uma caixinha de surpresas, onde ideias brotavam.
Girando um pouco para esquerda vejo a ladeira que dá para o riacho. As pedras da ruela também são pontiagudas e incertas - como as da época, e algumas casas ainda mantém a mesma fachada.
Uma placa encaixada na parede de uma casa diz: “aqui eu andei de sapato de madeira e estudei em uma escola de pobre”.
E alí naquele riacho, que não para de correr, contam que sua mãe foi lavadeira de profissão.
Fico vagando pelas ruazinhas descobrindo... o museu H.C.Andersen, - mais à frente o antigo teatro infantil chamado “O isqueiro magico”, onde seus contos foram transformados em peças teatrais para o público infantil. Hoje, essas apresentações são realizadas no” Eventyr Parken”. O público lota o gramado do parque durante o curto verão.
A cidade festeja seu ilustre filho, e o mantém vivo o ano inteiro, pois ali vemos festivais de verão e atividades de inverno com o tema Andersen; sem contar as estátuas espalhadas pela cidade e parques, eternizando sua figura e trazendo seus personagens para o dia a dia. E a magia não para de crescer.
Sim, ele era o mágico das palavras pois aqueles frios e longos invernos, abriram-se à infindável inspiração com colorida fantasia que há séculos fazem crianças sonhar.